Localizado na Zona Leste de Campinas, o bairro Mansões Santo Antônio é reconhecido por sua extensa área urbana, habitada por mais de 18 mil pessoas, de acordo com o Censo de 2022. Sua fama e procura vêm da proximidade com o Shopping Parque D. Pedro e por estar perto das duas principais faculdades de Campinas, Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e PUC-Campinas, e por ter muitas opções de prédios que tornam o bairro cada vez mais atrativo.
Mas, antes de ser como é conhecido hoje, urbanizado e verticalizado, era totalmente diferente: uma área residencial com terrenos grandes, chácaras extensas, ruas de terra batida e até galinhas e vacas correndo soltas. Os moradores mais antigos guardam bem essas lembranças.
“Quando eu cheguei, com 5 anos, para esse lado era plantação de goiaba e onde é o shopping, era plantação de algodão. Tanto que aquela raiz, aquele tronco enorme que está dentro do shopping Dom Pedro, eu almoçava e descansava embaixo daquela árvore”, conta Day Cardoso, moradora do bairro.
A grande mudança ocorreu por volta de 2002, quando o bairro deixou de ser considerado periferia e passou a ser mais atrativo para empreendimentos residenciais de alto padrão, principalmente por sua proximidade com o shopping e universidades. Desde os anos 2000, a média foi de aproximadamente 40 alvarás por ano, com pico em 2013, como indica o Departamento de Planejamento e Urbanismo de Campinas. Assim, o Mansões Santo Antônio saiu de uma zona de chácaras e de baixa densidade e passou a se tornar um bairro consideravelmente nobre e desejado pelo público.
Renato da Silva Shishido, diretor do Departamento, avalia que o processo de urbanização e verticalização do bairro aconteceu muito rapidamente. “A gente tinha uma legislação que dizia que, naqueles setores (de desenvolvimento urbano), para ter verticalização, precisava de uma aprovação de um comitê de dentro da prefeitura, que dava permissão ou não. Com o andamento e evolução da urbanização e a nova legislação, a comissão deixou de ser necessária.”
O diretor também afirma que o motivo dessa ligeira urbanização foram as demandas por lazer, educação e bons serviços “O Shopping Parque Dom Pedro funcionou, junto com outras melhorias urbanas, como um dos motores desse crescimento, pois aumentou o atrativo da região, melhorou acesso a lazer/comércio, elevou valores de imóveis. A demanda por morar perto de lazer, educação e bons serviços impulsionou incorporações.”, pontua Renato Shishido.
O crescimento acelerado trouxe vantagens e desafios, como a infraestrutura local, a qualidade urbana e a gestão ambiental, pois a área continua sendo um patrimônio de preservação ambiental da Mata Atlântica, com mais de 250 hectares. Apesar do desmatamento realizado para a construção de imóveis, órgãos de Campinas ainda desenvolvem projetos de plantio de árvores nativas. A Secretaria de Serviços Públicos de Campinas tem o projeto de Planejamento de Arborização Urbana, no qual foi decretado um critério de medidas que determina quais espaços estão aptos a receber mudas de árvores para proporcionar, cada vez mais, a arborização da cidade e dos bairros.


Paulina Leite é moradora do bairro há 45 anos e conta que viu o bairro mudar por completo. “Quando nós compramos aqui, daqui para baixo não tinha nenhuma casa, tinha só uma casa na esquina e uma em cima da rua. Até então, tinha só um acesso para a rodovia, os meninos iam a pé para a faculdade. Nós nos mudamos justamente porque meus filhos entraram na PUC-Campinas, mas o que mais procurávamos era o sossego. Esse bairro foi um achado, era perto, tranquilo, a vizinhança era amigável. Meu marido sempre disse que queria morrer aqui nesse bairro — e morreu”, relembra a moradora. Apesar de sentir saudades de como era e antigamente, ela também enxerga vantagens nessa modernização.
Quando o bairro ainda era composto por chácaras e estradas de terra, Cibele Vieira e seu marido, Gilberto Gonçalves, mudaram-se para a região. O motivo? Eram um casal de jornalistas, e Gilberto era professor na universidade PUC-Campinas. Logo, buscaram um lugar que fosse um pouco mais próximo à faculdade para facilitar o deslocamento.
Ao chegar, o casal percebeu a carência de certos elementos fundamentais de desenvolvimento, como ruas asfaltadas, falta de linha telefônica e de cuidados gerais com o espaço. Cibele e Gilberto decidiram fazer um jornal destinado especialmente àquele bairro, o Alto Taquaral, que levou o mesmo nome com o qual a região era conhecida antigamente. O veículo era utilizado não apenas como fonte de informação, mas também como forma de noticiar, denunciar e lutar pelas necessidades do local, evidenciando o que os moradores passavam ali.
Cibele conta que a chegada do Shopping Parque Dom Pedro trouxe desenvolvimento e novos comércios para o Mansões, algo que gerou mudanças positivas e negativas. O lado bom se deu pela evolução do lugar e de todos os recursos, como asfaltamento das ruas, saneamento básico e mais cuidado com as áreas de lazer pelas quais os moradores passaram anos lutando — e, com a atenção que o bairro passou a atrair, a modernização e cuidados que os residentes da região tanto desejavam, enfim, chegaram. Mas nem tudo foi do agrado de todos: muitos moradores não gostaram da construção de tantos prédios ao redor, o volume de pessoas causa obstrução nas vias, que são estreitas, e alguns comércios locais acabaram sofrendo com a chegada de novos mercados de rede.

A opinião dos moradores acerca dessa verticalização pode divergir. Bruno Fusaro, proprietário da Panificadora Via Di Fiori, que esteve presente desde o início, em 1997, foi um dos que precisou mudar a localização de seu comércio após a modernização da região, mas vê isso de maneira muito positiva: “O bairro não para de crescer. Em breve, teremos vários lançamentos de prédios após a igreja, o que é muito positivo para o comércio, pois traz mais moradores e movimento à região.” Bruno acompanhou de perto o crescimento do Mansões Santo Antônio. O endereço da padaria mudou em 2003, quando ela já não comportava a demanda de clientes, que cresceu muito junto ao bairro.
“Nossa loja já não atendia à demanda por conta do tamanho, então decidimos expandir para um espaço maior”, conta.

Vozes locais
O Mansões Santo Antônio atrai diversos públicos que acabaram se apaixonando pelo bairro por várias razões. A especialista em treinamento Andrea se mudou recentemente com o filho e conta que procurava um lugar que comportasse todas as comodidades que ela procurava. “Eu mudei para cá porque somos eu e meu filho, e eu queria um lugar em que pudéssemos ter um espaço para ele, mas também um espaço para mim, que trabalho de casa. Um apartamento foi uma boa opção para a gente”, conta.
Porém, outros moradores mais antigos do bairro relatam que viram a maneira como a arquitetura mudou, como outros públicos chegaram para morar na região e as melhorias que o bairro recebeu – como a praça Jornalista Gilberto Gonçalves, que foi inaugurada recentemente, proporcionando melhor infraestrutura de lazer. A advogada Taís Barbosa mora há mais de 10 anos e compartilha a história de como se apaixonou pelo Mansões Santo Antônio:
“Mudei aqui para o bairro — ainda era Chácara Primavera — em 2015. Mudei para cá porque, na época, eu fazia faculdade de Direito na PUC-Campinas. Peguei quatro anos no campus central e aí, no último ano, o curso mudou para o campus 1 e eu me mudei junto para o bairro. Desde então, sou apaixonada. Acho o bairro bem tranquilo, bem completinho. Tudo que a gente precisa tem aqui. Tem fácil acesso para outras cidades e meu coração está aqui”.
FOTO 5: O bairro Mansões Santo Antônio atualmente, após a revitalização das áreas de lazer. (Crédito: Laura Leite)
Vozes da Nossa Gente Campinas
O projeto multimídia “Vozes da Nossa Gente Campinas” é um projeto multimídia de conteúdo, desenvolvido pela redação do acidade on e pela Faculdade de Jornalismo e curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. A parceria de jornalismo hiperlocal contará a história de dez bairros da metrópole em reportagens, imagens e vídeos
Esta matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Julia Iacconi, Maria Eduarda Mubarak, Laura Leite e Catarina Werneck, para o componente de Projeto Integrador VIII, sob supervisão da professora Maria Lúcia e edição de Leandro Las Casas.
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Conheça o bairro de Campinas que passou por uma urbanização acelerada e, hoje em dia, é procurado por quem busca lazer e qualidade de vida
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