O Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) fez, nesta terça-feira (30), um alerta sobre o aumento de casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol. Desde 1º de setembro, quando surgiu o primeiro registro, nove pacientes foram acompanhados pelo Centro em diferentes cidades paulistas, dos quais dois evoluíram para óbito.

Durante coletiva de imprensa na manhã de hoje, o governo estadual deu um panorama mais geral do cenário no estado: ao todo, 22 casos já foram registrados até o momento em São Paulo, sendo 17 suspeitos e cinco confirmados. Uma morte por intoxicação por metanol foi confirmada e quatro estão em investigação. Veja os números:
- 17 casos suspeitos de intoxicação por metanol;
- 5 casos de intoxicação por metanol;
- 4 mortes sob investigação;
- 1 morte confirmada;
Os números estaduais diferem dos registrados na Unicamp porque nem todas as análises foram encaminhadas ao Centro, já que alguns casos foram avaliados em outras instituições do estado. Segundo especialistas, a gravidade dos casos e a escassez de antídotos no país tornam a situação preocupante – entenda mais abaixo.
Histórico
O alerta começou no dia 1º de setembro, quando o Hospital Municipal do Grajaú notificou o Ciatox sobre um jovem internado em estado grave após ingerir bebida alcoólica. Os exames revelaram a presença de metanol e ácido fórmico no sangue.
O paciente fazia parte de um grupo de quatro jovens que haviam consumido gim comprado em uma mesma loja. Em três deles, os testes laboratoriais confirmaram a presença da substância tóxica. A Vigilância Sanitária foi acionada para investigar a origem da bebida.
Nove casos de intoxicação por metanol
Após esse episódio, outros casos surgiram. Até agora, o Ciatox acompanha nove ocorrências, todas investigadas com análises laboratoriais em Campinas.
- São Bernardo do Campo: um paciente faleceu poucas horas após a internação.
- Limeira: jovem que consumiu uísque em um churrasco chegou à UTI, mas teve boa evolução e recebeu alta.
- São Paulo: sete casos, incluindo um segundo óbito.
Dos nove pacientes, oito tiveram material analisado em laboratório. Em seis foi detectado metanol, e em cinco, ácido fórmico — metabólito que se forma quando o metanol é processado pelo fígado.

Por que o metanol é tão tóxico
O metanol em si não é o responsável direto pelos danos, mas sim o ácido fórmico, gerado durante sua metabolização. Essa substância se acumula no sangue, provoca acidose metabólica grave e atinge órgãos como nervo óptico e cérebro, podendo causar cegueira irreversível ou morte.
Sintomas e sinais de alerta
De acordo com a médica Camila Prado, os primeiros sinais podem se confundir com os de uma embriaguez comum, já que o metanol também é um álcool. Porém, há indícios específicos que levantam suspeita:
- Mal-estar intenso e desproporcional à quantidade de bebida ingerida;
- Náuseas e vômitos persistentes;
- Dor de cabeça forte;
- Alterações visuais, como visão turva ou escurecida;
- Falta de ar e respiração acelerada;
Exames iniciais podem mostrar acidose no sangue, reforçando a suspeita de intoxicação.

Tratamento limitado
O tratamento depende do tempo de exposição. Quando iniciado precocemente, há maior chance de evitar que o metanol seja convertido em ácido fórmico. As medidas incluem:
- Cuidados intensivos e suporte avançado de vida;
- Correção da acidose metabólica;
- Uso de antídotos;
- Hemodiálise, quando necessária, para remover metanol e ácido fórmico do sangue.
Fomepizol
O antídoto mais indicado no mundo é o fomepizol, considerado essencial pela Organização Mundial da Saúde. Ele age inibindo a enzima responsável pela transformação do metanol em ácido fórmico, com segurança e poucos efeitos colaterais. No entanto, o medicamento não está disponível no Brasil.
Como alternativa, utiliza-se o etanol absoluto, que compete pelo mesmo mecanismo, mas exige manter níveis tóxicos de álcool no sangue.
Leia mais: Ciatox alerta para escassez de antídotos em casos de intoxicação por metanol
Falta de antídotos e pedido ao Ministério da Saúde
O Ciatox ressaltou que poucos hospitais dispõem de antídotos e que o estoque da Unicamp vem sendo redistribuído para unidades de referência. A entidade, junto com a Associação Brasileira de Centros de Informação e Assistência Toxicológica, cobra do Ministério da Saúde que o fomepizol seja incorporado ao SUS e mantido em estoque regular.
Veja também: Tratamento emergencial de metanol em SP inclui etanol e ‘vodka na veia’ em hospitais
Detecção e análises
Os exames feitos na Unicamp analisam material biológico (sangue e urina), não as bebidas em si. A técnica utilizada é a cromatografia gasosa, considerada padrão ouro.
O laboratório funciona em horário comercial, mas mantém equipe de sobreaviso para casos emergenciais. Os resultados podem sair em até 40 minutos e são fundamentais para definir a conduta médica, inclusive a necessidade de hemodiálise.

Invisível ao consumidor
Um dos grandes riscos é que o metanol é indistinguível do etanol: não tem cheiro, cor ou sabor diferentes. Em misturas com destilados como gim, uísque ou vodka, torna-se impossível identificar a adulteração sem análise laboratorial.
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